quinta-feira, 27 de maio de 2010

A aventura de irrigar o intestino


17h45m de uma tarde qualquer, das recentes. Depois de tensões, temperaturas, vigilâncias, dúvidas esclarecidas, medicação preparada e depois de um bom pão da mealhada na torradeira a acompanhar um cházinho, preparo-me para irrigar 2 intestinos, um de cada vez, é certo. Tenho tudo supostamente controlado e penso e desejo não ser interrompida por nada, para que tudo bata certo e seja um turno tranquilo. Vai o sorinho a aquecer, a cliente decide que tem de ir urinar primeiro. Muito bem, aguardamos, embora não consiga deixar de me interrogar a razão pela qual sempre que informo que vou realizar um enema, logo as mulheres ficam com vontade de urinar. Tantas horas no quarto a ler revistas e tem de ser exactamente naquela hora que vão urinar. Adiante. Faço a montagem do material. Ainda não consegui descobrir como se colocam 2 microlax naqueles frascos de soro, que mais parecem caixas forte. É impossível furar aquilo. Fico na dúvida. O que fazer? Concluo que terão se ser colocados á parte daquele frasquinho á prova de tesoura. Posiciona-se a cliente, esclarece-se o procedimento, tranquiliza-se. Passo seguinte - adaptar a sonda rectal ao sistema de perfusão! Mas que raio...estarei a usar mal as minhas hábeis mãos ou é mesmo difícil encaixar a cena? Tento e tento e tento e faço tanta força que se me escorregam os dedos e não sei como fico trilhada, com a marca daquele círculo azul cravada na minha tenra pele. Começo a transpirar e na euforia do momento eis que me vem uma ou outra palavra do calão português, daquelas muito atreitas a sair quando a gente se magoa sem estar minimamente á espera. Controlo-me. Olho para o lado e vejo o rabo á espera. Volto a tentar encaixar a cena. Lá consigo, com muito esforço e tentativas Zen para me acalmar. Lubrificante e tal. Aventura seguinte - encontrar onde colocar a sonda. Mais um pouco, nádega para aqui e para ali. Finalmente! Dentro de 10m está concluído. E só faltará um. Que me corra melhor na parte técnica é o que desejo. Muito haveria ainda por dizer, mas estou certa de que compreendeis bem o âmago desta aventura. A quem nunca aconteceu, que atire a primeira pedra? (mas com cuidado, para eu não me magoar sem estar á espera...:-)

domingo, 9 de maio de 2010

Capitães de Abril e Noites de Mer...


Bom, faz já muito tempo que não despejo aqui as emoções-bacorada que me vão na alma. Tanta coisa aconteceu nos entretantos... Ficamos sem capitão de bordo, nós, que eramos os "marines" da enfermagem, tropa de elite, capacetes azuis, o que convier melhor ao leitor. Mas lá vamos navegando, continuando a pescar conforme fomos treinados para. Neste compasso de espera, inquieta-me saber como anda tanta gente extra marines, a especular sobre quem será o nosso próximo capitão. Não percebo porque andam tantas almas amarguradas com isto. Será a velha questão do, como dizer...poleiro livre? Seja qual for a razão, eu sinceramente não percebo. Não deveriamos ser nós, os abandonados, a ter essa inquietação? Pois, o mundo rege-se por regras que eu não entendo. Aliás, aqui há uns tempos, se a memória não me falha (que hoje fiz noite e ela anda a carvão), até havia quem soubesse quem era o tal capitão e se comportasse como se fosse dono de um grande segredo. Cá para mim, anda tudo maluco. E estranho estranho, é ainda saber que gente há que afirma ter pena deste abandono, mas anda com um sorriso de júbilo contínuo sempre que enverga a farda azul. Sabeis pois, a quem me refiro - classe que recentemente mudou de nome.
Posto isto, resta-me apenas dizer que não gosto de fazer noites quando são más. Como hoje. Não gosto de me ver sem paciência a partir das 3h. Entro em transe. Não gosto do zumbido das campainhas sempre a apitar (ainda não percebi porque não vibram...era bem melhor. ás vezes, quando elas tocam, dou cada salto que não sei se estou na tropa ou no manicómio). Gostava muito que as campainhas apitassem na classe de farda azul. E adorava que apitassem tão alto que se ouvisse no 407. Não gosto de noites chatas. Não gosto de ter de comer a ceia toda. É mau sinal. Não gosto quando me pedem microlax ás 6h da matina. Não gosto de sair de casa á noite. Não gosto.
Bem haja pelo vosso tempo a ler estas besteiras.
The land of the crikes