segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Flatos


A flatulência é um assunto muito sério. Acho que já me tinha esquecido de quão sério era, até ter feito tarde. Quando se tem meia dúzia de clientes e dessa meia dúzia, duas conseguirem ocupar 7h do nosso tempo, quase em full-time, começamos a pensar que é um assunto sério. E misterioso. E curioso também, porque os flatos querem proximidade, de outro modo não consigo explicar porque tal situação me ocorreu com duas clientes lado a lado na cama. Eu sei que não fui eu que transmiti, não foi uma infecção cruzada, porque agora ando sempre a esfregar as mãos no promanum, como manda a lei, a modos que um dia destes as minhas mãos serão mais brancas que a farda. Ainda assim, gosto do cheiro daquilo (do promanum, atenção). Bem sei que alguns detestam, mas isto é como o ar condicionado, do qual sou realmente fã, porque nessa tarde ajudou-me a refrescar a cabeça de peixe balão com que já estava. A flatulência é uma coisa muito séria também quando os resguardos tem supercola 3, a modos que é difícil os rabos sairem da cama para uma passeata. E foi sempre a dar-lhe. Sondas rectais, estimulação rectal, analgesia, pancreatina, massagem e nada, nicles. Foi todo o santo turno na labuta e nada resultou. Aceitam-se sugestões.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A aventura de irrigar o intestino


17h45m de uma tarde qualquer, das recentes. Depois de tensões, temperaturas, vigilâncias, dúvidas esclarecidas, medicação preparada e depois de um bom pão da mealhada na torradeira a acompanhar um cházinho, preparo-me para irrigar 2 intestinos, um de cada vez, é certo. Tenho tudo supostamente controlado e penso e desejo não ser interrompida por nada, para que tudo bata certo e seja um turno tranquilo. Vai o sorinho a aquecer, a cliente decide que tem de ir urinar primeiro. Muito bem, aguardamos, embora não consiga deixar de me interrogar a razão pela qual sempre que informo que vou realizar um enema, logo as mulheres ficam com vontade de urinar. Tantas horas no quarto a ler revistas e tem de ser exactamente naquela hora que vão urinar. Adiante. Faço a montagem do material. Ainda não consegui descobrir como se colocam 2 microlax naqueles frascos de soro, que mais parecem caixas forte. É impossível furar aquilo. Fico na dúvida. O que fazer? Concluo que terão se ser colocados á parte daquele frasquinho á prova de tesoura. Posiciona-se a cliente, esclarece-se o procedimento, tranquiliza-se. Passo seguinte - adaptar a sonda rectal ao sistema de perfusão! Mas que raio...estarei a usar mal as minhas hábeis mãos ou é mesmo difícil encaixar a cena? Tento e tento e tento e faço tanta força que se me escorregam os dedos e não sei como fico trilhada, com a marca daquele círculo azul cravada na minha tenra pele. Começo a transpirar e na euforia do momento eis que me vem uma ou outra palavra do calão português, daquelas muito atreitas a sair quando a gente se magoa sem estar minimamente á espera. Controlo-me. Olho para o lado e vejo o rabo á espera. Volto a tentar encaixar a cena. Lá consigo, com muito esforço e tentativas Zen para me acalmar. Lubrificante e tal. Aventura seguinte - encontrar onde colocar a sonda. Mais um pouco, nádega para aqui e para ali. Finalmente! Dentro de 10m está concluído. E só faltará um. Que me corra melhor na parte técnica é o que desejo. Muito haveria ainda por dizer, mas estou certa de que compreendeis bem o âmago desta aventura. A quem nunca aconteceu, que atire a primeira pedra? (mas com cuidado, para eu não me magoar sem estar á espera...:-)

domingo, 9 de maio de 2010

Capitães de Abril e Noites de Mer...


Bom, faz já muito tempo que não despejo aqui as emoções-bacorada que me vão na alma. Tanta coisa aconteceu nos entretantos... Ficamos sem capitão de bordo, nós, que eramos os "marines" da enfermagem, tropa de elite, capacetes azuis, o que convier melhor ao leitor. Mas lá vamos navegando, continuando a pescar conforme fomos treinados para. Neste compasso de espera, inquieta-me saber como anda tanta gente extra marines, a especular sobre quem será o nosso próximo capitão. Não percebo porque andam tantas almas amarguradas com isto. Será a velha questão do, como dizer...poleiro livre? Seja qual for a razão, eu sinceramente não percebo. Não deveriamos ser nós, os abandonados, a ter essa inquietação? Pois, o mundo rege-se por regras que eu não entendo. Aliás, aqui há uns tempos, se a memória não me falha (que hoje fiz noite e ela anda a carvão), até havia quem soubesse quem era o tal capitão e se comportasse como se fosse dono de um grande segredo. Cá para mim, anda tudo maluco. E estranho estranho, é ainda saber que gente há que afirma ter pena deste abandono, mas anda com um sorriso de júbilo contínuo sempre que enverga a farda azul. Sabeis pois, a quem me refiro - classe que recentemente mudou de nome.
Posto isto, resta-me apenas dizer que não gosto de fazer noites quando são más. Como hoje. Não gosto de me ver sem paciência a partir das 3h. Entro em transe. Não gosto do zumbido das campainhas sempre a apitar (ainda não percebi porque não vibram...era bem melhor. ás vezes, quando elas tocam, dou cada salto que não sei se estou na tropa ou no manicómio). Gostava muito que as campainhas apitassem na classe de farda azul. E adorava que apitassem tão alto que se ouvisse no 407. Não gosto de noites chatas. Não gosto de ter de comer a ceia toda. É mau sinal. Não gosto quando me pedem microlax ás 6h da matina. Não gosto de sair de casa á noite. Não gosto.
Bem haja pelo vosso tempo a ler estas besteiras.
The land of the crikes

sábado, 30 de janeiro de 2010

20.000 Enfermeiros na capital

A Sra Ministra prescreveu-nos bom senso e nós, Enfermeiros que somos, "cumprimos" esta prescrição e fomos lutar pelos nossos Direitos!!!

- Mas porque é que os Enfermeiros estão em Luta? PORQUÊ?
- Porque é que os Enfermeiros são os únicos licenciados do País que não ganham como licenciados? PORQUÊ?
- Porque é que quando os Enfermeiros (que muitos dizem trabalharem pouco) fazem greve, os serviços de Saúde param? PORQUÊ?
- Porque estão os Enfermeiros na rua? PORQUÊ?

PORQUÊ???

Pela Valorização profissional e Justica social
Pelo Reconhecimento como licenciados que somos
Pela Igualdade de Direitos
Nós, Enfermeiros Portugueses estamos em luta!

No dia 29 Janeiro 2010, fomos 20.000 Enfermeiros a marchar em Lisboa, e a Ginecolândia também esteve presente!

Caros colegas, leiam isto, comentem e divulguem:
www.ocentrosocial.wordpress.com/2010/01/28/protesto-dos-enfermeiros-uma-questão-de-injustiça/

Obrigado, Sra Ministra! Com o seu bom senso conseguiu unir os Enfermeiros deste País!E prometemos-lhe Continuidade de Cuidados: na Próxima Greve/Manif estaremos lá.

No turno de Speedy Gonzales

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A casa de banho dos vestiários


Meus amigos, hoje vim fazer noite e, após vestir a minha fardinha, por sinal bastante larga no pescoço, e depois de enfiar o material de bolso (sim, porque agora temos de tirar tudinho antes de despir a farda já que ela sai pela cabeça e feliz de quem tem a cabeça pequena que nós no fim do turno saimos com ela tão inchada...) deu-me para mictar. Verdade. Senti mesmo vontade de mictar. E pior sorte não me poderia ter calhado. Dirijo-me ao WC dos vestiários e eis o cenário:

- 1º dilema: fechar a porta. Se fecho a porta não tenho luz, se deixo a porta aberta posso ter audiência enquanto urino, ou na pior das hipóteses, enquanto me limpo. Optei por fechar a porta, mas antes decorei bem as medidas ao buraco, não fosse acertar no tampo.

-1ª constatação: Afinal a sanita não tem tampo. O tampo encontra-se atrás da sanita, no chão e eu não sei porquê. Reparo que está no chão porque vou seguindo com os olhos o trilho da ferrugem e das rachas na parede e questiono-me sobre a higiene, acreditando piamente que é mesmo tudo ferrugem. Adiante.

-2º dilema: Trancar a porta. Onde está a coisinha que passa de verde a vermelho? Não está. É sempre bom. Enquanto urino ouço a porta do vestiário abrir-se e passos na direcção do WC. Penso: será que vem para aqui? Não consigo agora travar o chichi a meio caraças. E tenho uma micção ansiosa e começo a ficar cansada das pernas por estar a segurar-me na posição estremamente sexy que as senhoras são obrigadas a adoptar para "mijar". Mundo injusto. Felizmente ninguém abriu a porta. Ufa.

-2ª constatação: Enquanto lavo as mãos questiono-me acerca da necessidade de haver um toalheiro, uma vez que está sempre aberto e temos de o "consertar" para poder tirar papel.

-3ª constatação: na procura dos pequenos "quês" que fazem uma Instituição ser referência, tento aferir sobre a assiduidade da limpeza do referido sanitário. De facto, existe lá o placard em fibra, mas nenhum papelinho que ateste quando foi a última vez que o WC sofreu de higienização.

E foi esta a saga do meu princípio de noite.

Acham que devo...sei lá...enviar umas fotos ao "Nós por cá"?


The land of the crikes

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Os seres humanos são...


Tenho tido alguma dificuldade em compreender os seres humanos, chiça. Hoje deparei-me com tal facto novamente. Cena: estamos no serviço, temos uma cliente submetida a uma grande cirurgia, os familiares rodeiam-na, disparando perguntas á senhora e fazendo barulho. Intervimos, apelamos ao silêncio e fazemos ver os benefícios para a utente de repousar neste período pós-cirúrgico. Conclusão da cena: respondem com agressividade, rispidez e até má educação.


RRRRRRRRRRRR.....dá vontade ás vezes de ser insensível ás necessidades do outro. Mas...se somos, podemos ser penalizados, se não somos, respondem mal, e se contrapomos a resposta, ainda podemos ser alvo de...sei lá, um processo ou um queixa ou o diabo que o leve.


Epá, engalfinhem-se para aí todos com barulho. Raios.
The land of the crikes

sábado, 9 de janeiro de 2010

Factos sobre os elefantes, por Stanley Bing


"O elefante detesta ficar sem fazer nada, a não ser que chame a essa ocorrência uma reunião. O elefante joga pelas regras que ele próprio concebeu, mesmo que essas regras não façam sentido para mais ninguém. Os elefantes vêem muita coisa."